domingo, 29 de agosto de 2010

A inocência do prazer

Já passou, fomos perdoados
Por todos os deuses do amor
Acabou, podemos ser claros
Como era antes, seja lá como for
Alguém tentou desesperadamente
Sentir algo decente
Sou feliz, pois já fui julgada
Daqui pra frente, tudo é meu
Então fala baixo
Fala baixo e sente
Eu vou te dar um presente
Vento novo, flores e cores
Fim do verão tropical
Novos ares, novos amores
Tudo volta ao seu estado normal
Sou feliz e trago as provas
Nos meus olhos molhados
E vejo a vida tão diferente
Eu já posso entender
A inocência do prazer
Então fala baixo
Fala baixo e sente
Eu vou te dar um presente

'Tiro ao Árvaro'


De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...

Teu olhar mata mais
Que bala de carabina
Que veneno estricnina
Que peixeira de baiano...

Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóvel
Mata mais
Que bala de revólver...

De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...

(Adoniran Barbosa)

sábado, 28 de agosto de 2010

Capítulo XL



Em cima, as estrelas pareciam rir daquela situação inextricável.
Vá que a lua os visse! A lua não sabe escarnecer; e os poetas, que a acham saudosa, terão percebido que ela amou outrora algum astro vagabundo, que a deixou ao cabo de muitos séculos. Pode ser até que ainda se amem. Os seus eclipses (perdoe-me a astronomia) talvez não sejam mais que entrevistas amorosas. O mito de Diana descendo a encontrar-se com Endimião bem pode ser verdadeiro. Descer é que é demais. Que mal há em que os dois se encontrem ali mesmo no céu, como os grilos entre as folhagens cá de baixo? A noite, mãe caritativa, encarrega-se de velar a todos.
Depois, a lua é solitária. A solidão faz a pessoa séria. As estrelas em chusma, são como as moças entre quinze e vinte anos, alegres, palreiras, rindo e falando a um tempo de tudo e de todos.
Não nego que são castas; mas tanto pior, terão rido do que não entendem...
Castas estrelas! é assim que lhes chama Otelo, o terrível, e Tristram Shandy, o jovial. Esses extremos do coração e do espírito estão de acordo num ponto: as estrelas são castas.
... E rindo, daquele riso oblíquo dos maus, propunha comprar-lhe não só a alma, mas a alma e o corpo... Castas estrelas!

(Quincas Borba - Machado de Assis)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Quando a gente precisa de alguém

Poeminha do meu amigo Alcanu, que o escreveu quando estávamos na passeata. Ou foi no bar do Kaká?!

22/08/2010
"Quando a gente precisa de alguém"

Preciso
de alguém
com o olhar indeciso,
que pise onde eu piso,
que saiba chorar !

Preciso
de alguém
que eu parabenizo
pelo pouco juízo
que venha a ter !

Preciso
de alguém
que eu formalizo
e às vezes itemizo
com um raro prazer...

Preciso
de alguém
que voe em vôo liso,
arisco, preciso,
que saiba sentir !

Preciso
de alguém
que eu não vulgarizo,
pelo contrário, possa até valorizar...

Preciso
de alguém
por quem não me martirizo,
o Amor quando chega,
vem pra ficar !

Preciso
de alguém
que totalmente convencionalizo,
só não totalizo,
pois algo nela tem que faltar !

Preciso
de alguém
que há tempos idealizo,
que me compreenda,
nem quero o Paraíso,
apenas um lugar pra gente viver !

Preciso
de alguém
que muitos planos contabilizo,
que me deixe conciso
de idealizações !

Preciso
de alguém
com quem jamais me aterrorizo,
ao invés disso, saiba me enternecer !

Preciso
de alguém
assim finalizo,
que saiba entender
as minhas emoções !
© MMX by alcanu

Sobre a obra

Reencontrando a Carol na Passeata "21 Anos sem Raul"

http://www.overmundo.com.br/banco/quando-a-gente-precisa-de-alguem

sábado, 21 de agosto de 2010

O dia da saudade

Hoje não é feriado, mas é o dia da saudade.
Há 21 anos acontece a tradicional Passeata Raulseixista, com o intúito de homenagear o Raulzito. Claro que vai muita gente que nem sabe o que está fazendo alí, mas muitos curtem e conhece de verdade. E como em alguns anos, todo dia 21/08 lá estou e estarei para abraçar aqueles malucos raulseixistas, beber na 'panela do diabo' e cantar até que o dia amanheça.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Tudo azul, completamente blue

Tudo calmo por aqui. Sem loucura, sem medo. O telefone ainda não tocou.
Se eu estivesse bebendo estaria fazendo umas merdas. Mas estaria fazendo coisas bem divertidas! Devido ao cansaço e a falta de tempo tenho feito programinhas bem lights, como ir ao teatro todo final de semana. Não sei até quando essa 'fase' irá durar.
Às vezes sinto vontade de me aposentar e/ou me desfazer dessa vidinha, mas aí me lembro que só tenho ela. Apesar de conviver com muitas pessoas escrotas, as pessoas fodas são maioria. E são elas que me dão força. Gente que sofre e não descuida da maquiagem, que não deixa a merda render.
Para terminar, quero dizer que a vida calma é extremamente sedutora. Mas infelizmente, eu não acredito nisso.

domingo, 8 de agosto de 2010

"Existe o sol, existe a lua, existe o ar que respiramos e existem os Rolling Stones!"

(Keith Richards)

sábado, 7 de agosto de 2010

" A única menina que eu ficaria é a Carol, porque ela tem conteúdo. Mas quando bebe ela não vale nada." (Selma)

*Obrigada pela parte que me toca, perua.

Homem?

Antes de mais nada, gostaria de deixar claro: eu gosto de homem, e muito. Gosto das suas mãos, dos seus pelos, do pomo de adão, da forma dos pés. Adoro suas vozes grossas e o cheiro de suas peles. Sempre gostei de ter um homem pelado na minha cama, no meu banheiro. Intimidade com homem é o que há de bom. Gosto demais de aprender a ser prática com eles. Prática nos sentimentos e conclusões, porque no dia a dia eles têm duas mãos esquerdas e até isso eu acho engraçado neles. Olha, eu acho mesmo os homens uma gracinha!

Mas o que mais gosto neles quase não vejo mais: virilidade, no sentido amplo da palavra. A maior parte dos homens que conheço se nega a ser homem de fato, entre eles e com suas mulheres. O que eu chamo de "ser homem", vejam bem, é ser capaz de olhar - e tratar - uma mulher como ela é e não a mera continuidade de suas mães, ou uma buceta a quem eventualmente se pergunta o nome, ou ainda uma trouxa workaholic sem direito à vida pessoal, mas que deixa tranquilo o homem (bom, vamos chamá-lo assim) que convive com ela, afinal, as contas nos restaurantes (já que elas nem cozinhar sabem) serão meiadas.

É óbvio que muitas mulheres, na ânsia de manter um homem pra chamar de seu, se sujeitam a ser só isso, e felizes da vida, afinal como diz o título daquela peça infame com a infame e meia da Zezé Polessa: "Não Sou Feliz Mas Tenho Marido". Ok, a elas o que elas querem: um pseudo marido para uma pseudo mulher.

Mas eu vejo mulheres tão bacanas por aí, com seus romantismos sob controle mas que exigem um tratamento digno, passando por cada situação que eu vou te contar! Me respondam, meninos: por que vocês andam tão cuzões? Covardes, insensíveis (em relação à nós, porque a auto referência que a maioria de vocês tem em doses cavalares os mantém absolutamente sensíveis a tudo que os toca, e mais nada), agressivos, mal educados? Por que vocês não carregam mais as nossas bolsas, não nos abrem mais as portas do carro (a menos que o carro - ou a mulher - sejam novos), não pagam mais as contas nos restaurantes, por que não seguram nossas ondas, não se interessam mais pelo nosso bem estar, mas mesmo assim se acham no direito de criticar nossa comida, nossos cabelos, nossa postura e nossas palavras?

Tudo bem, ser homem não deve ser tão fácil, a pecha de provedor que lhes coube deve ser bem pesadinha de carregar, mas peraí: provedor de quê, se afinal de contas as mulheres trabalham, se bancam, se sustentam e algumas chegam até a sustentar seus homens? Acho uma injustiça vocês argumentarem que a luta pela igualdade entre os sexos foi a responsável pelo descaso que orienta suas atuais atitudes. Alguns chegam a fugir apavorados de mulheres que não ganham o suficiente para dividir as contas, mesmo que o cabelo, a manicure, a depilação, a lingerie e a pele estejam na mais perfeita ordem, e por conta delas - e eu corto o saco do primeiro babaca que me disser que não gosta disso. Eu realmente acho que as feministas extremistas devem ser empaladas em praça pública e mortas com seus mal humores e seus pruridos. Adoro sutiãs e acho uma tristeza que várias tenham queimado os seus, com aqueles bojos que hoje não se fazem mais. Igualdade de cu é rola, sou sexo frágil e assim quero ser tratada!

Me parece que os homens não gostam mais das funções atribuídas à eles. Mas eu gosto das funções "de mulher". Fui educada pra ser uma excelente dona de casa: podem fazer o teste da moeda, ela vai pular no lençol esticadinho de qualquer cama que eu arrumar. Meu arroz é soltinho, meu feijão gordinho e cremoso, sou disposta pras coisas da cama e da mesa - e também pras do banho. Gosto de receber meu homem com a casa arrumadinha e a comida recém feitinha - e uma bela camisolinha. Lavo roupa muito bem e até hoje nunca manchei uma peça. Exijo um homem à altura, e como parecem que eles não existem - o último que eu tive que catapultar pro meu padrão me deu mais trabalho que uma criança limítrofe de quatro anos - me mantenho sozinha, sem dramas. Meus fuck friends me seguram muito bem a onda enquanto abdico solenemente dos meus sonhos românticos de amor de verdade com um homem de verdade.

Sem traumas, sem dramas, sem ressentimentos. Tá tudo bem aqui, meninos, e beleza, tá fácil pra vocês, a mulherada está mesmo descontrolada aceitando qualquer forma de vida - muitas só não dão em cima de carrapatos por não saberem identificar o macho - e a vida segue assim, mudar o mundo não faz parte dos meus planos. Mas é triste, é muito triste ver as cenas que tenho visto, mulheres sendo desrespeitadas noite e dia por homens que elas aturam por pura carência.

Se eu pudesse, sairia distribuindo auto estima por aí, ensinando a essas minas que elas merecem mais, mas não posso. Então cuido do meu, ligo pros meus fuckers nos momentos de perrengue e sigo feliz da vida por ter me livrado de toda dependência masculina, mas me mantendo feminina e muitíssimo bem resolvida.

E que vocês, pseudo homens, se contentem com as pseudo mulheres que lhes pulam no pescoço, porque a tendência é que a grande maioria seja só isso, uma carninha em volta da buceta que se chama... comequié mesmo? Ah, lembrei: MULHER.

Eu, hein?


(*Incrível texto da Fabiana Vajman*)